Que poema inspirador
este do Jorge de Lima, deu pano pra manga: um espetáculo com
músicas lindas de Chico Buarque e Edu Lobo e agora o filme de Carlos
Diegues.
O Circo de picadeiro
circular, círculo, redondo como nossa Terra a rodopiar por aí na
Via Láctea. Todos os povos sempre ao redor de fogueira, brincando,
conversando, dançando, de tempos imemoriais até hoje, no século
XXI que foi o das ficções científicas da literatura e cinema, às
vezes distópicas.
Sob a lona toda a
fauna e todas as emoções, há curiosidades: uns bichos são
artistas e uns humanos assistem e aplaudem igual crianças, o leão Nero não devora o
homem. Aqui proibiram animais em Circos com a desculpa de
maus-tratos, como se não houvessem maus tratos aos bichinhos de
estimação em lares-doces-lares… Filmaram em Portugal.
Quem não leu o
poema não capta certas ironias e detalhes, mas mesmo assim nada é
incompreensível. A personagem Celavi ( soa como “é a vida” em
francês), criada para o filme, é genial! Não envelhece em um
século, afinal , a Vida não envelhece.
As datas escolhidas
e as situações mostram a história do Brasil. No começo do séc.
XX, antes das Guerras terríveis, o mundo do progresso onde o
cinema anunciava mudanças enormes – para o bem e para o mal –
era cheio de esperança. Na ditadura as drogas pesadas chacoalhando
as estruturas de qualquer pessoa sensível. E hoje em dia a
decadência e pobreza, em tempos de realidade virtual, onde a
realidade verdadeira e concreta se esfacela junto com a imaginação
individual.
Contudo a crença
fiel no que é importante – Cultura, alegria, imaginação, magia,
resiliência, etc. – leva ao final poético( não leia se não viu
o filme): sob lona rota e esfarrapada as gêmeas puras fazem um espetáculo
mágico, sob os olhares embevecidos dos homens poderosos, da mãe
mística, dos empregados, de Celavi, em imensa alegria e leveza
contestam a Lei da gravidade… em tempos em que malucos afirmam a
Terra ser plana, tudo é possível, hahahaha! E Celavi diz: “Hoje
é de graça!”, a ambiguidade deixa ao gosto do Respeitável
Público: escolha o sentido que lhe aprouver a esta “graça”.
Não custa nada: imaginar é sempre grátis!
Ainda há de brinde
durantes os créditos no letreiro final a bela canção Na Carreira
que sintetiza tão bem a alma do artista.
Em outro filme, Cacá Diegues disse Bye, Bye Brasil. Neste há um Brasil que persiste apesar dos
pesares, e se recusa a dizer “ Adeeeeeeeeeeus!”
Oxalá, resista!
Oxalá, resista!
Nenhum comentário:
Postar um comentário