Vi no Festival do Rio 2018 três filmes daqueles para se ver com lenços ensopados de lágrimas. E a beleza deles é daquela que impregna na memória. É bom saber que pessoas de países tão diferentes se preocupam com o que importa de fato e esmiuçam.
Cafarnaum, libanês, de Nadine Labaki conta a saga de Zain, um menino de rua que processa os pais. É o retrato 3 X 4 sobre o que há em tantos países. Há também uma imigrante e seu bebê fofo, mãe exemplar ao contrário da mãe do pequeno heroi. Atores maravilhosos e os lados do problema sem maniqueísmo. As entranhas da miséria nunca são agradáveis de se ver, porém, com uma edição habilidosa e uma conclusão simples e precisa, a diretora conseguiu fazer uma obra-prima, premiada com o grande prêmio do Júri no Festival Cannes.
Guerra Fria, polonês, de Pawel Pawlikowski, mesmo diretor do premiado Ida. Como o nome diz trata daquele tempo de sofrimento, angústia, um sufocamento que a beleza das músicas folclóricas do começo escorraça. Nenhuma tortura é mostrada, a odiosa ausência de liberdade não é dita em discursos panfletários. Tudo está lá sob uma história de amor impossível de ter final feliz. É tão pouco tempo de filme onde coube tão bem o horror daquela época. As músicas são lindas.
Assunto de Família, japonês, de Hirokazu Koreeda, ganhou a Palma de Ouro em Cannes. Uma história de uma criança que sofre maus tratos e é acolhida em outra família, sem que os pais biológicos saibam, ou seja, legalmente, é sequestrada.... Mas a dimensão humana comporta Leis estáticas? As múltiplas qualidades que uma pessoa pode ter e que passam despercebidas da maioria das pessoas e das instituições são escancaradas com leveza. Fica evidente que os julgamentos precipitados sem saber o passado de alguém são sempre injustos. As vítimas mais vulneráveis e nunca ouvidas são as crianças, óbvio. O erro de considerar os pais biológicos aptos a criar os filhos sem acompanhamento na credulidade de um amor inato parece ser universal. E as crianças infelizes, maltratadas, provavelmente serão adultos infelizes que maltratarão ou serão maltratados, em um círculo vicioso. Como quebrá-lo?
O incrível nestes três filmes, além da beleza das cenas, dos atores excelentes, das histórias cativantes, é a percepção que temos aqui fora, imersos na escuridão da sala de cinema, de que tudo poderia ser diferente se... se... se...
Mas não é diferente; por isso choramos.
Parabéns pela sensibilidade!
ResponderExcluirAdorei os três filmes.
Você escreve muito bem!