terça-feira, 4 de dezembro de 2018

O Grande Circo Místico, o filme





Que poema inspirador este do Jorge de Lima, deu pano pra manga: um espetáculo com músicas lindas de Chico Buarque e Edu Lobo e agora o filme de Carlos Diegues.
O Circo de picadeiro circular, círculo, redondo como nossa Terra a rodopiar por aí na Via Láctea. Todos os povos sempre ao redor de fogueira, brincando, conversando, dançando, de tempos imemoriais até hoje, no século XXI que foi o das ficções científicas da literatura e cinema, às vezes distópicas.
Sob a lona toda a fauna e todas as emoções, há curiosidades: uns bichos são artistas e uns humanos assistem e aplaudem igual crianças, o leão Nero não devora o homem. Aqui proibiram animais em Circos com a desculpa de maus-tratos, como se não houvessem maus tratos aos bichinhos de estimação em lares-doces-lares… Filmaram em Portugal.
Quem não leu o poema não capta certas ironias e detalhes, mas mesmo assim nada é incompreensível. A personagem Celavi ( soa como “é a vida” em francês), criada para o filme, é genial! Não envelhece em um século, afinal , a Vida não envelhece.
As datas escolhidas e as situações mostram a história do Brasil. No começo do séc. XX, antes das Guerras terríveis, o mundo do progresso onde o cinema anunciava mudanças enormes – para o bem e para o mal – era cheio de esperança. Na ditadura as drogas pesadas chacoalhando as estruturas de qualquer pessoa sensível. E hoje em dia a decadência e pobreza, em tempos de realidade virtual, onde a realidade verdadeira e concreta se esfacela junto com a imaginação individual.
Contudo a crença fiel no que é importante – Cultura, alegria, imaginação, magia, resiliência, etc. – leva ao final poético( não leia se não viu o filme): sob lona rota e esfarrapada as gêmeas puras fazem um espetáculo mágico, sob os olhares embevecidos dos homens poderosos, da mãe mística, dos empregados, de Celavi, em imensa alegria e leveza contestam a Lei da gravidade… em tempos em que malucos afirmam a Terra ser plana, tudo é possível, hahahaha! E Celavi diz: “Hoje é de graça!”, a ambiguidade deixa ao gosto do Respeitável Público:  escolha o sentido que lhe aprouver a esta “graça”. Não custa nada: imaginar é sempre grátis!
Ainda há de brinde durantes os créditos no letreiro final a bela canção Na Carreira que sintetiza tão bem a alma do artista.
Em outro filme, Cacá Diegues disse Bye, Bye Brasil. Neste há um Brasil que persiste apesar dos pesares, e se recusa a dizer “ Adeeeeeeeeeeus!”
Oxalá, resista!

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