sexta-feira, 12 de julho de 2019

Psicanálise Poema


PSICANÁLISE
        

            a Helena Martinho da Rocha



Uma arte
ou ciência
ou acrobacia
metafísicalquimiafenomenolinguísticafilologisofibiologia...
Que seja dito
a psicanálise talvez tenha surgido tardiamente
quando o mundo estava mudo
falando mecanicamente e ouvindo sandices demais
Mas quando seria a hora?
nem importa
haverá -- a certeza é tanta –
a
  ve r
     evel
          baliz
                 ação ( verbalização/                                       revelação)
destino dos que falam e pensam
o paraíso tão conhecido
que o oráculo de Delphos
já tinha inscrito
― Conhece-te a ti mesmo!
anos depois foi
e como?
descoberto
e dito
conclusão tão óbvia que nenhuma
revolução se iguala
à simplicidade da fala
e à complexidade
do que acontece em cada sessão
o não dito —
a intuição —
o sentido —
o re re re re re re re re re re re re re re re re re re re re re re re re re repetido –
Coração e coragem
afetuosidade e fé na Humanidade
cada indivíduo é um tanto dela
e na história há todas as possibilidades
i e ini
magináveis
Inclusive da Psicanálise vir a ser mais respeitada
e a palavra valer tanto quanto
a própria vida deveria também valer
Ah!
ou Há

     de haver!

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Poema do livro Personagens


PRINCESA
num castelo morava
uma princesa
o príncipe
ainda era sapo
a bruxa estava
de férias
o rei e a rainha
não existiam
os súditos todos
migraram
as aves animais e plantas
sumiram
o sol brilhava
quando queria
a lua às vezes
em pleno dia
e assim os anos se passaram
e assim a princesa envelheceu
quando por fim
teve a idéia de
beijar o sapo
este jovem e
devidamente transformado
tomou um susto
e morreu
a princesa devidamente
desdentada
sentou na beira da estrada
e chorou
enxugava as lágrimas
com as devidas
roupas esfarrapadas
esperando algum dia
um outro alguém
pra uma estória
melhor inventar
quem dera!


Poemetos na Palma da Mão


a barbárie se instala
nas tocas menos esperadas
o cérebro pesa
mas o pensamento é leve
por isso permeável às atrocidades

Poema do Miragem de Estimação


quadras completas de rima
                     e de egos em compota
desgosto à prazo
                no cartão de crédito
e vendedores de sonhos
 horripilantes 
              vergam
                     as verdades sob o
                   som dos alto falantes 
de pregadores delirantes


Poema do Miragem de Estimação


fragmentos de alegria

tradições ou entretenimento
as festas juninas
os usos e costumes a  l e n  t  a  dança
ou o ofegantearrastapé
os devaneios destroçantes
as aves que gritam
e decolam os voos semânticos em tons multicores
leveza em bandeiras de papel de seda
sim a humanidade
nunca mais será a mesma
ao sabermos sermos quase iguais
às galinhas
ai!
os 23 mil genes do tal genoma
entre manter a existência ou comer milho
e ciscar o terreiro
em ambas espécies há a mesma quantidade de genes
e uma infinidade de dias e noites e viveres
porém as pobres galináceas acabam nas panelas cobertas por temperos

Haicais


pássaro cantando
em uma manhã fria
todo medo se evapora


= = =



Os pássaros voam
A palavra permanece
Verão oposto ao Inverno




= = =


sentido hão de ter
as tecnologias infinitas
à vida supérflua


Poema do livro Miragem de Estimação


Às vezes o tropeço
outras o avesso
tanto faz contanto
não seja fora
de todo contexto
umas vezes mais e outras menos
se escolhe entre poder
menos ou nem...
Desvios momentâneos
E leveza de resolução
Conclusão tão óbvia
espera em cada
calçada ou vão da casa
A vida é tão querida por ser tão única
e os cacos surgem
agregando mais valor e dando
um frio na barriga

Poema Surrealista



                                                                                                ( surrealista)

é caminho de casa o que passa na tv de fato nada é constatado exceto a morte do cão adestrado no deserto por ter caído do camelo de mudança sobrecarregado com toucas e louças e roupas e tantas geringonças passam no céu sempre azul sem nuvem alguma ou sem nada de bom pra que haja a vida de verdade e assim mesmo Rimbaud gostou tanto de lá que de lá nunca mais voltou exceto para morrer e ser alçado ao poeta mor da novidade e da beldade embora entre tantos houvesse também um Cruz e Souza a dizer belas palavras silentes e salgadas com o gosto da palavra amargada na alma estonteante e nodosa, (sermões ou sertões) e sendas são sobretudo sonhos os delgados pastos dos gaviões grandes querendo bezerros pequenos desgarrados das mães e fragilizados sem mãe igual o cão no deserto sem água e na areia escaldante vendo a lua e sol e a solidão destroçante a caçoar da sua pobre existência que sendo leve lépido ou lento não poderia vencer a intempérie nem o vento e o calor e sede e desarraigo desassossego desgostoso de dó dar na gente e de saber que mais cedo ou mais tarde tudo se desfaz e dissolve como pó no ar é mais vital e contumaz que se haja sem parar que seja a vida já pois a qualquer hora chega o fim apavorante de tanto ser certeza absoluta e inexorável então viver é obrigatório e ser feliz é irrisório nem fortuna de meretriz ou de quem quer que seja mas com certeza a Rimbaud e Cruz o bezerro o gavião o cão o camelo e quanto povo mais houve e houver todos serão como nas histórias infantis felizes para sempre enquanto o sempre durar e é tão pouco que parece desgosto de gente ao acabar o doce preferido embora o compelido ar seja o ou vulgo suspiro a forma certa e melhor para expressar o alívio de ainda se estar vivo e ter caneta e papel para poder escrever em qualquer forma que seja ou que dê na veneta e ser feliz nesta eternidade momentânea enquanto todos os pensamentos ruins são escorraçados para fora de mim só para eu poder sofrer menos e lembrar melhores dias quando vierem me encontrarão não igual ao cão morto, mas tal camelo trabalhando e roto bebendo galões de água no oásis ou gavião degustando as entranhas do bezerro bobo ou os poetas ao escreverem lindos poemas em seus papéis de má qualidade embora suas mentes geniais a nada disso achassem que importa posto serem tão sabidos quanto o mais vivo ser do mundo inteiro ( como se fosse possível saber quem seja) e negar esta verdade de haver felicidade antes do fim é negar a própria existência e é ser como um gado em essência e ser como um anjo é insípido e incolor sem cheiro perfume nem fedor e aquele ar de falsa felicidade que só têm os anjos os beatos e esse povo crente em geral querendo sempre crer num Deus ou Deuses ou diabos e etc. e tal pra poderem viver diz que melhor e não vêem que só pioram e se transformam em bezerrinho bobo desentranhado no pascigo mais ermo e desvalido em própria vida e se parecem com fantasmas inóspitos voando sem lençóis e discos vinis furados repetindo o que lhes foi ensinado e de todos os modos repetem como os carneirinhos e carneirões da musiquinha cujo objetivo é ser a mais bonitinha e embaladinha no papel de seda com fitas de cetim transforma os seres humanos desde crianças em capachos tristes e tão obsoletos e desvalidos e defazados e fudidos e mal pagos como dizem na vulgar linguagem que ao sexo associam tanta desgraça quando na verdade é a maior das graças e a melhor diversão quase totalmente de graça e ainda por cima uma questão de saúde é tão vital que afasta a mente da impactante paura do fim e doravante nada que escreva aqui fará mais
sentido pois o surrealismo é assim não se deve pensar antes e nem depois? me parece que sim mas como todo bom pensante eu penso e muito e resolvo todos os conflitos os ditos e não ditos os malentendidos que em inglês é tão lindo misunterstand mas verbo no infinito é igual a vida no abismo não sei porque digo isto ou qualquer que seja a asneira embora pareça um sério problema de zonzeira ou ataque de monomania igual teve o tal do Leão do Qorpo Santo e seu fulano de tal chamou assim só por o pobre escrever sem parar e parecer um bem mal doente quando era gênio tal Artaud que levou choque até dizer chega e ser é tão vital e tão importante quanto viver e quanto a felicidade de saber ou de sentir ou de apenas comer o doce merengue não mas pudim sim e tantos outros ou pizza e delícias afins mas por hoje acho que vou embora dormir e espero sonhar com todos vivos e saltitantes até as dunas de areia e seus rastros se esfumaram com o vento e o tempo e a nós restou apenas a saudade e esta caneta acabou


Poema Surrealista (escrito sem pensar e sem corrigir)


                                               (poema surrealista)

descubro
         manto
                sobre
                      o veludo
                              do musgo
o mundo é alternado
porto
     ouro
raios
            as vidas
tudo parece nada e era passada
jamais volta
embora
retorno
emborcado
retrocesso
o que faz o torpe
solapando o sublime e a lida
viva a preguiça
bicho quase extinto
                     todos
o trazer visão e ver
acaso haverá
construções?
róseas
        paredes
               iluminadas
por sol
        à tarde
de tanto ouvir a voz interna e a companhia
inteira de si mesmo
e desastre
ambiental
Baleias suicidas ou suicidadas
desnorteiam-se
por algum motivo e encalham
destocar a vitrola
mp1 2 3 4 tantos
ou I-pod
quanto posso eu?
E tantos
unguentos sem trema
pingos só nos iis
all right
é fato
o desentoar e o castigar
doravante a escrita será surreal
o que sair fica e o que se
quer
faz-se
ou não se constroi um Taj-Mahal
por dia na imaginação
e na realidade concreta
é só um castelinho
de cartas de baralho ou areia
tanto faz é tão importante quanto
a beleza de fato é a do Tigre e nada mais se iguala
os humanos tão sem listras
sem presas e sem esturro de onça
felinos felinnianos et finis
ou o que seja formidável
a empreitada da galinha
de ovos de ouro
               Rei Midas pobre e sem nada
o toque
igualado a nothing
inigualavelmente enorme
é a vontade
de
dizer e calar e escrever
porque a palavra dita demove
a escrita não gasta saliva
somente deuses podem ver de cima e descer
quando querem ao convívio
humano
os torcedores gritam Mengo!
Embora eu seja tricolor
gosto da alegria
não do time
e estes deuses desviados da rota
disfarçados de torcedores
ou leitores de manchetes nas bancas
de jornais
Onde houve uma grande onda azul
a glaciação começou
o inverno eterno e a fome
onde se resolve
onde se complica
a maldade enorme
                avilta
a verdade pesa sobre as costas
o detalhe de um nome de um surto ou um lapso
o desengonçado estado de se ver noutra
paragem quase invade
mas a resistência
                 francesa 
foi vitoriosa na história
na realidade parece que tudo ruiu
onde foi que se viu um elefante num monociclo?
Foi no meu ex-libris
o pó do mundo é igual ao da lua?
Ou é distante a beleza
do sentido de limpeza essencial à saúde etcétera e tal
onde há saúva há saúde?
Sonhos e descaminhos
não há surrealismo suficiente nessas mal traçadas linhas
o tigre se perdeu na selva emaranhada
de beleza fortuita e empoeirada
ninguém foi visto ou investigado
o suficiente para ser alçado
ao time daqueles deuses
e monotonia à parte
todo mundo quer a felicidade pra si
sem se preocupar com o resto
e tanto faz que seja aqui
ou lá em Marte
a vida, a poeira, ou o raio que o parta
tudo
    tudo
        tudo
            que vale é ser
  Feliz!
 E basta!


Poema do livro Personagens


REPENTISTA





um político no palanque
Discurso mesmo e ambíguo
No fundo oco
sem vida
mas seus olhos revelam a cilada
E o povo dá as costas
ouvindo
O cantador de cordel
Num desafio!

Poema de 2011


                                  (Para um cão meu vizinho que late)

O cachorro late
               incansável
     sem pausa
    nem respira
indiferente se hoje é o último dia
                                   de 2011
 ele só late sem se preocupar de acordar a vizinhança
de repente pára
 dá uma latidinha fraca e pára
 alguém chegou? algo aconteceu?
 sua vontade foi saciada ou talvez o estorvo retirado
o cão se cala
 o latido é a fala dos cães e AuAu é tão pouco
 usam a entonação o volume
 e dão ênfase ao dizer
 mas é só AuAu e é pouquíssimo
                              a quem tem tanto a dizer
 há um desespero incrustado 
em certas horas de impossibilidade
 em se expressar
 ele então abana o rabo
 essa compensação é um achado – mas há uns sem rabo – 
e nós humanos cheios de palavras
 fonemas que não acabam
 mais neologismos e grunhidos
 estalos de língua
 assovios
 dispomos de tanto
 às vezes para dizer tão pouco ou nada
 e – pior – quando se fala negatividades
 insultos e desastroso discursos 
                             desnecessários deveriam ser
 mas pululam por serem em catadupa
alçados a líderes os charlatões
 em lugar dos humanos verdadeiros

 onde os cachorros ladravam quando as caravanas passavam?
 nunca foi dito
 nem sei se descobrirão algum dia
 e é correto
 pra que perder tempo em saber o que não importa?
 e o que importa afinal?
esse desespero aplacado do pobre animal se descabelando
 na manhã do último dia do ano 31 de dezembro e gritando Auau
 sim, esse silêncio não tem preço
 ele feliz abanando o rabo e calado
 e nós bípedes construtores de caravançal
 e tanto mais – nem sempre que valha a pena –  cheios de tudo 
além do AuAu
 despojados da condição animalesca
 ditos e auto-proclamados civilizados
 entretanto
 não temos rabo pra balançar
 portanto rimos
              do leve sorriso da Mona Lisa até a gargalhada
 e esse privilégio humano é gratuito
 o preço pago pra se chegar aqui
 foram os anos nas cavernas frias e as milhares de caravanas
 que passaram
enquanto as testemunhas da evolução humana
     apenas ladravam
AuAu