quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Três filmes tristes e belíssimos!

Vi no Festival do Rio 2018 três filmes daqueles para se  ver com lenços ensopados de  lágrimas. E a beleza deles é daquela que impregna na memória. É bom saber que pessoas  de  países  tão diferentes se preocupam com o que importa  de fato e esmiuçam.
Cafarnaum, libanês,  de Nadine Labaki conta a saga de  Zain, um menino de rua que processa os  pais. É o retrato 3 X 4 sobre o que há em tantos países. Há também uma  imigrante e seu bebê fofo, mãe exemplar ao contrário da mãe do pequeno heroi.  Atores maravilhosos e os lados do problema sem maniqueísmo. As entranhas  da miséria nunca são agradáveis de se ver, porém, com uma  edição habilidosa e uma  conclusão simples  e  precisa,  a diretora conseguiu fazer uma obra-prima, premiada com o grande  prêmio do Júri no Festival Cannes.
Guerra Fria, polonês, de  Pawel Pawlikowski, mesmo diretor do premiado Ida. Como o nome  diz trata daquele tempo de  sofrimento, angústia, um sufocamento que a beleza das músicas folclóricas do começo escorraça. Nenhuma  tortura é  mostrada, a  odiosa ausência de  liberdade não é dita  em discursos panfletários. Tudo está lá sob uma  história de  amor impossível de ter  final feliz. É tão pouco tempo de  filme onde  coube  tão bem o horror daquela época. As músicas são lindas.
Assunto de Família, japonês, de Hirokazu Koreeda, ganhou a  Palma de  Ouro em Cannes.  Uma história de uma  criança que sofre maus tratos e é acolhida em outra família, sem que os pais biológicos saibam, ou seja, legalmente, é sequestrada.... Mas  a dimensão humana comporta Leis estáticas? As múltiplas qualidades que uma pessoa pode ter e que passam despercebidas da maioria das  pessoas  e  das  instituições são escancaradas com leveza.  Fica evidente que os julgamentos precipitados sem saber o passado de alguém são  sempre injustos. As vítimas mais vulneráveis e nunca  ouvidas são as  crianças, óbvio.  O erro de  considerar os pais biológicos aptos a criar os  filhos sem acompanhamento na credulidade  de um amor inato parece ser universal. E as  crianças infelizes, maltratadas, provavelmente serão adultos infelizes que maltratarão ou serão maltratados, em um círculo vicioso. Como quebrá-lo?
O incrível nestes três filmes, além da  beleza das cenas, dos atores excelentes, das  histórias cativantes, é a percepção que temos aqui fora, imersos na  escuridão da  sala de cinema, de que tudo poderia ser diferente se... se... se...
Mas não é diferente; por isso choramos.

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